Apresentação da Revista Aquae Flaviae nº70

É, com especial ênfase que o presente número de revista consagra a identidade de “Chaves nos seus dois mil anos de História”, mediada por proposta gráfica recriada na simbologia de numerosos motivos arqueológicos figurativos, ostentados em fragmentos e objectos do poderoso histórico património local, atravessado por milenares períodos de heteróclita ocupação e seu consentâneo evolucionismo. Essa gráfica identidade, em brilhante e belo azul-cobalto, espalha-se perante os nossos olhares, bem visível, em painéis que demarcam espaços urbanos, em veículos que percorrem as vias do concelho, em pavimento, em tantos outros bens definidores do Município.
Tal simbologia identitária atravessa, explicitamente, os estudos que constituem a temática desta edição da Revista Aquae Flaviae, tratada por meritórios autores de uma forma, superabundantemente. pedagógica proporcionando assim, aos dedicados leitores, uma significativa interpretação, como se passa a sintetizar.
O primeiro estudo Chaves, um “reflexo do que somos” explica, no seu qualificado trabalho que: “Para os municípios, enquanto organizações públicas responsáveis pela gestão e promoção dos territórios, os logótipos deixam de ser apenas símbolos estáticos cerimoniais, passando a ser ferramentas estratégicas de comunicação, proximidade e distinção”
O segundo estudo, intitulado: Entre Fragmentos e Símbolos: a Arqueologia como motor de identidade e expressão territorial,evidencia através da simbologia, a extensa história de Chaves, concluindo que: “A nova logomarca do Município de Chaves não representa apenas uma renovação estética, mas antes uma verdadeira celebração do património local – uma ponte simbólica entre o passado e o futuro. Inspirada em artefactos arqueológicos milenares e em elementos profundamente enraizados na cultura local.
Esta nova identidade vai além de uma simples imagem gráfica: ela traduz o espírito de uma comunidade que valoriza a sua história, honra as suas raízes e projecta confiança no tempo por vir. Constitui-se como uma síntese visual sofisticada que transcende a representação literal de elementos arquitetónicos ou cronológicos isolados. Ao integrar, de forma articulada e inovadora, referências visuais provenientes de diferentes períodos da história de Chaves – como o pirgo das Termas Romanas, o anel de ouro, a decoração cerâmica da Soutilha ou a roseta hexapétala das igrejas medievais – esta identidade visual propõe-se como um exercício de reinterpretação contemporânea do património material e simbólico do território flaviense”.
Comunicar património histórico e arqueológico: “É preciso fazer um desenho?”, é o tema que elucida o leitor sobre a forma de escrever fácil sobr temas complexos, referindo que: “Quem escreve um texto de divulgação de um tema científico, no caso concreto relacionado com a História ou a Arqueologia, tem assim que, tal como um náufrago apanha uma tábua para não se afogar, recorrer a todos os trunfos ou artifícios que ajudem a que a informação passe, seja lida e apreendida. E a verdade é que existem soluções simples que funcionam muito bem. Uma das principais formas é “humanizar” o texto, ou seja, falarmos de pessoas”,
“Chaves, e dois mil anos depois?” trabalho didáctico que a autora e o ilustrador qualificam como: “um conto infantojuvenil sobre o percurso de dois mil anos da história de Chaves, até à conceção da simbologia que hoje vemos em tantos recantos do Concelho”.
Encerra o conteúdo temático deste número de revista “A Alma de um Território: A Marca Territorial Chaves como Expressão de Identidade Coletiva”,texto onde o autor explicita que : “Ao contrário de um produto industrial, um território não é fabricado num sistema fechado: ele é construído ao longo do tempo por camadas de história, cultura, geografia e comunidade. O marketing territorial, por isso, deve ser sensível a esses ativos intangíveis, traduzindo-os em propostas identitárias autênticas que promovam diferenciação sustentável. Como sustentam Kavaratzis e Ashworth (2008), uma marca territorial não pode ser imposta de fora para dentro; ela deve emergir de um processo partilhado de co-produção e co-consumo simbólico pela comunidade local. As marcas territoriais, nesta perspetiva, tornam-se instrumentos poderosos de mobilização coletiva. Elas agregam memórias, projetam visões de futuro e operam como sistemas de significação partilhada. Uma marca eficaz é aquela que respeita o património simbólico da comunidade, mas que também tem a coragem de inspirar, desafiar e apontar novos caminhos. Chaves, com a sua riqueza patrimonial e identidade singular, reúne condições ímpares para se posicionar como referência nacional em branding territorial orientado pela herança e pela inovação”.
E concluindo em pleno acordo com o autor: “Uma marca não é apenas um símbolo, um logótipo ou um slogan. É, sobretudo, uma promessa, um sentimento partilhado, uma experiência vivida e uma memória coletiva. Construída não apenas na mente, mas também no coração, a marca territorial transcende a dimensão visual para se tornar um sistema identitário, enraizado cultural e emocionalmente na comunidade. Ela é forjada pelas histórias locais, pelas vivências quotidianas e pelas aspirações partilhadas”.
E, é este. o contínuo desejo de o Grupo Cultural Aquae Flaviae prosseguir o seu desígnio de levar ao forum de leitores todo o corpus de conhecimento que o ajude a formatar a sua persona cultural, esclarecendo o histórico passado revitalizado na actualidade que nos interpela em cada momento e recanto.
